23/07/2015

31 e nem parece que foi ontem que eu tinha 30

Foi assim, sem mais nem menos, sai da casa do zero. 


Já tinha me acostumado com os 30 e mesmo com o meu problema de dicção, eu achava tão fonético dizer que tenho tinha "trlinta" (só quero ver como vai ser quando eu tiver que dizer que tenho 33, vai ser algo mais ou menos assim: "trlinta e trlês").

Não mudou nada no mundo do momento que eu dormi com 30 e acordei com 31, mas não teve jeito, foi sair da cama e me deparar com o espelho para iniciar a saga de catar rugas, sinais do tempo, gordurinhas fora do lugar, fios brancos... qualquer nova evidência de que o corpo envelheceu. Por mais desencanada que eu seja, hoje me rendi. Não encontrei nada que não estivesse ali desde antes de ontem, mas hoje o significado é mais pesado... já não tenho mais 30. E agora?


E o que eu fiz nesses últimos 30 anos de vida? Nada, me parece... 

Fico procurando um ponto da vida que tenha valido realmente a pena, que tenha feito a diferença de alguma forma. Foram 30 anos e eu não consegui salvar o mundo, digamos que não estou me parecendo muito competente neste momento... 

Começaram as mensagens de feliz aniversário, os amigos que estão longe mandando seus carinhos. Fiquei respondendo (sim, eu respondo mensagem de aniversário. Respondo qualquer mensagem no dia-a-dia, imagina se iria perder a chance de responder mensagens cheias de carinho endereçadas a mim?). Lembrando daquelas pessoas, dos momentos, dos encontros, das mudanças que cada uma delas me proporcionou, da forma que elas me enxergam no mundo... basicamente tive uma epifania...

Não salvei o mundo, nem as baleias, ou golfinhos, tartarugas ou todos os cães de rua... não adotei uma criança ou terminei com a fome da África, não solucionei a seca de São Paulo, do Nordeste ou de qualquer lugar, não tive uma ideia brilhante para acabar com a miséria, a fome ou qualquer medida que fosse ter meu nome estampado no jornal... não fiz nada que valesse a pena alguém lembrar de mim por mais 30 anos. 

Meu nome já esteve estampado no jornal, já juntei pessoas que nunca tinham se visto e que passaram a criar juntos, que tiraram ideias das gavetas e colocaram em prática... já sai algumas vezes no jornal com algum projeto bacana cheio de gente mais bacana ainda (orgulho de mamãe: nunca sai na página policial)... fiz, faço coisas que me alegram, que me despertam para o mundo, que me transformam. Permitem que eu deite a cabeça no travesseiro com 30 anos e acorde com 31 com a certeza de que estou fazendo o meu melhor e que meu alto grau de exigência, com tudo, faz com que eu seja exigente com as minhas escolhas, com as minhas conquistas e é por isso que as vezes eu esqueço o tanto de coisas legais que eu já fiz em 30 anos, mas ainda bem que eu tenho um montão de gente que não me deixa esquecer! Valeu gente, tenho um pouco de cada de vocês dentro de mim e são as escolhas de amizades que eu fiz que me tornam diariamente quem eu sou!

26/03/2015

Entre eu e o caos uma Bela Vista!

O ato de olhar para o céu e contemplar o seu azul já não é tão simples.
Tem dias que as nuvens aparecem em formato de algodão doce que lembram a infância, quando eu deitava a cabeça na areia e ficava criando personagens que voavam por cima de meu pequeno corpo.
Agora não se tem areia para deitar o corpo, o asfalto queima.
A brisa não sopra trazendo o cheiro do mar.
Tudo está maior.
As copas das árvores que antes me abrigavam do sol, agora são vistas de cima. Parecem tão pequenas vistas daqui.
Carros e pessoas em zig-zag como se fossem formigas, tantas, agitadas e tão organizadas.
Um ir e vir confuso, mas nada caótico.
As vezes sinto vontade de perguntar de onde vem e para onde vai com tanta pressa.
Ergo a cabeça, avisto pequenas nuvens. Nada de brisa.
Som de buzina ao invés do som das ondas.
Sorrio.
Olho para frente e avisto a bandeira do Estado no alto de uns dos prédios mais ilustres da cidade.
Foi minha escolha estar aqui. Ainda bem.
Abandonei o mar.
Descubro diariamente uma nova paisagem vista do mesmo lugar.
Nada é permanente, precisa saber aproveitar esses dias de céu azul e nuvens de algodão.
Ver a poesia da Bela Vista diária.

08/03/2014

Dia internacional da mulher e eu

Talvez por hoje ser comemorado o dia internacional da mulher, talvez por alguns não entenderem o que esse dia represente, talvez por eu me pegar tendo pensamentos carentes e sendo frágil em tantos momentos e saber que o dia de hoje nada tem de comercial e se trata de uma lembrança da força feminina e da desvalorização enquanto seres humanos que nós mulheres já sofremos, talvez por essas coisinhas eu tenha resolvido a escrever aqui...

Talvez eu tenha me sentindo traindo aquelas mulheres que lutaram tanto para eu ter direito ao voto e com isso ter o poder de escolher quem irá me representar. Mulheres que morreram queimadas lutando pela qualidade de vida no trabalho. Mulheres que queimaram seus sutiãs por uma sociedade mais justa. Mulheres que lutam pelo direito de serem Anittas, Carla Peres, Mulher Melancia e mostrarem seus corpos quase nus sem querer dizer que os “machos” possuem qualquer tipo de direito sobre estes. Me sinto traindo todas essas mulheres que lutaram pelo direito de eu ser solteira toda vez que permito que minha carência tome conta de minhas decisões.

Me trai algumas vezes, quando encanei nas relações, quando procurei fórmula mágica de manter um relacionamento, quando me senti ignorada e ainda assim valorizei a existência do outro.

Trai todas as conquistas quando prendi meu pensamento em entender a lógica masculina, quando me permiti crer que havia sentimento mútuo e no instante seguinte me foi demonstrado indiferença e ainda assim segui focando meu tempo nessa pessoa. Quando Idealizei, deixei o tempo passar, acreditei que algo estava indo para um rumo quando na verdade o destino era outro. Estar com alguém para tirar “outro” da cabeça, quase como prêmio de consolação. Trai tudo quando foquei em estar com alguém.

Me trai quando fui permissiva ao ter negado o meu direito de sentir-me protegida, não me refiro a proteção contra perigos externos, mas protegida contra pessoas que agridem meus sentimentos. Quando mesmo sem ter escolha mantive a esperança.

Trai tudo quando lamentei o tempo que perdido acreditando que aquele homem seria diferente. Quando me fechei para o mundo.

Talvez por ser o dia internacional das mulheres eu tenha percebido o quanto fico me desgastando com relações baseadas na futilidade e na carência. E tenha percebido que o ontem é passado e não pode ser mudado, mas que hoje posso mudar o meu futuro.

Percebi que tive mais do mesmo. Foi perturbador ver que o diferente era igual. Péssimo pensar que não existe o cara certo que todos apenas esperam pelo momento de serem os babacas da vez. Criar expectativas é apenas questão de tempo para que outro cause decepção.

Me prendi em relações idealizadas. Deveria ter saído dessa armadilha enquanto a lembrança ainda poderia ser positiva, me preservando de eventuais machucados.

Brinquei de namorar, de casar. Tudo por gostar da companhia do outro, mas fui covarde e mesmo sabendo que não amava nem era amada, ainda me mantive ali como cachorro dando a cabeça em troca de carinho.

Não tenho que gostar de alguém mais do que a mim. Não tenho que querer estar com alguém, tenho que gostar da minha companhia. Não posso permitir a imposição da sociedade de que só somos felizes em pares. Isso é sentimento de solidão.

Vivi o momento, mas quando deixarei o futuro entrar em minha vida? Perdi tempo com mentiras que contei para mim e bloqueie quem merece minha atenção de se aproximar.

E aí no dia internacional da mulher e de pensamentos confusos chego a constatação de que não quero mais ninguém, me sou suficiente. Não vou mais perder meu tempo com ninguém além de mim.

Meu tempo é o agora e nunca mais vai voltar. Então não vou me dar a outra pessoa, não vou deixar entrarem em meu cotidiano enquanto for fingimento ao invés de ser especial. Não quero conto de fadas, quero algo real. Não quero fingir um compromisso, quando no fundo ambos sabem que não é isso. Não quero suprir carências, quero troca justa.

O botão de desliga está na minha mente, quando tornar lúdico o quero para minha vida, aí a pessoa certa vai aparecer. Sem buscas. Sem jogos.

Felicidade e amor são opções de vidas, não são bônus, prêmio por bom comportamento ou algo do gênero. 

Relações baseadas em carência apenas aproximam mais pessoas carentes e confusas e aumentam o meu vazio. Chega disso para mim. Chega de me enganar.

Eu quero e preciso acreditar no amor. A pessoa certa para mim pode ser você ou pode ser simplesmente eu sem mais ninguém.

Meu dia será feliz, independentemente de ser hoje 8 de março ou 15 de junho. Posso viver como eu julgar ser melhor, pensar e fazer o que eu quiser, graças as lutas que algumas mulheres travaram. Estas mulheres, assim como eu, não merecem minha traição.


10/10/2013

Um conto e um corpo.

Lá estava Ana gritando, descabelada, com os calçados nas mãos.
Quem via a cena levava um tempo para entender o que ela balbuciava enquanto tentava recuperar seu fôlego.

- Parem tudo! Parem já!

Todos olhavam atentos, enquanto Ana sacudia freneticamente seu bloco de anotações. 
Na sala, todos parados, olhares curiosos e pensamentos no que ela trazia de tão interessante desta vez.
Pessoas e prensas paradas, no aguardo da notícia do século.

Iolando se aproxima e tomou o bloco para ver o que havia ali, já que Ana não conseguia recuperar o fôlego. Ela havia atravessado a cidade a pé, andou alguns quilômetros para levar antes do fechamento da edição aquela “bomba”. Olha a primeira página: uma pequena lista, parecendo tópicos. Coçou a cabeça tentando entender aquelas informação aparentemente sem nexo:
//Antony Rossphelth
// Rosiane Bourbon
// Navio Macktub III
Vitor analisava junto com Iolando o que eram as anotações, ao perceberem que havia uma folha toda dobrada, anexada ao bloco de Ana. Era uma carta manuscrita, assinada pela Rosiane Bourbon, famosa pelas suas campanhas em prol da virgindade.
Uma carta de amor, entre Rosiane e um marinheiro.

“Querido Antony;
Envio esta carta como uma última tentativa de notícias suas.
Ainda sinto em meu corpo o teu cheiro, em minha pele o leve tocar de teus dedos.
Sempre que passo pela calçada do Hotel que dividimos a cama, lembro da noite que fui possuída por ti, que fui refém e carrasco.
Um pouco envergonhada, confesso, com tamanha brutalidade a que me tomaste, mas que eu não revidei, aceitei, gozei.
Seria um lindo momento em nossa vida, se não fosse pelo o que destino nos reservava. Uma separação. Um oceano entre nós.
Já faz algum tempo que deixaste de mandar notícias, fico apenas com aquelas memórias de meses, mas que me parecem ter acontecido ontem
...
Sempre Sua,
Rosy Bourboun.”

Não seria nada de mais, nenhuma notícia interessante, se a Stra. Bourbon não fosse o símbolo de castidade da alta sociedade. Tentava, ela, levar as jovens ao pensamento de que seus corpos não poderiam ser “violados” até o casamento. Defendia uma bandeira de que o sexo era sujo, feio e que não deveria ser praticado sem o fim da procriação. Todos os conhecidos dogmas da Igreja Católica eram transformados em banners para postagens diárias nas redes sociais da solteira e imaculada Rosiane.
A carta estava sem data, mas o papel amarelado entregava tratar-se de um passado distante.
Agora a vergonha de Rosiane não estaria apenas no ato de sentir saudades daquele homem misterioso que, aparentemente ,depois daquela noite jamais voltou a se comunicar. Seria a queda de uma reputação puritana. Quem a conhecia, poderia dizer que em seus olhos havia um certo misto de tristeza e raiva. Agora poderiam entender o que atordoava tanto aquela mulher.
Ana havia conseguido conteúdo suficiente para uma matéria com embasamento, todos os fatos haviam sido pesquisados, encontrando até a lista de tripulantes do navio Macktub III a qual constava o nome do então marinheiro  Rossphelth. Uma lista de hóspedes do antigo Hotel, que hoje era apenas um ponto turístico da pequena cidade, confirmava que os jovens haviam ali estado em uma noite de outono.

Iolando, chefe da redação, estava em dúvidas se comprava a briga contra a “Dama Símbolo da Moral e Bons Costumes” ou se deixava a história de Ana em uma gaveta, como tantas outras... Ana acusava Rosiane de prostituição, não de seu corpo, mas de suas idéias e Iolando estava justamente pensando se ao engavetar o artigo não estaria ele, através de seu jornal, sendo cúmplice de tal prostituição?

06/10/2013

Cartas pra que te quero...

Eu adoro escrever, adoro mesmo, mas não em meios virtuais [apesar de que escrevo pelos sites de relacionamento], estou falando da caneta tocando o papel e as letras tomando forma. Sou narcisista de escrita, não gosto muito do que escrevo, mas amo ver a minha letra, amo ficar observando as palavras surgindo e os desenhos cada letrinha vai formando.
Sempre escrevi cartas que enviei, mas de um tempo para cá, com o surgimento do e-mail, facebook e todo tipo de acelerador de comunicação, parei de enviar cartas e de escrevê-las.
Criei uma espécie de diário que já completa 8 anos de existência, um diário meio torto, já que tem anos que deixei de escrever diariamente nele... mas ainda escrevo, vez ou outra, sobre coisas, pessoas e sentimentos. Tudo aquilo que eu penso que não deva ser compartilhado com o mundo externo, fica lá, guardadinho. Quando releio, dou risada dos meus anseios, devaneios e dramas que por vezes me tiraram o sono e com o passar do tempo os percebo tão bobos.
Escrever é um alívio, é tirar de dentro tudo o que escondemos ou nem sabemos que sentimos, as palavras vão tomando sentido e uma coisa vai levando a outra, quase uma psicografia.
Dia desses escrevi uma carta, a qual não enviei. Duas coisas que não fazia há tempos, escrever carta e deixar de enviá-la, mas desta vez não coloquei em um envelope, não selei. Talvez por medo do que o destinatário iria pensar ao receber aquelas linhas confusas mas honestas, talvez por não achar que valeria a pena tanta exposição. Não sei justificar o motivo, mas o fato é que não foi enviada.
O destinatário nem imagina a história contata, nem faz ideia de que em alguma gaveta de minha casa exista para ele um carinho em formato de carta. Para minha surpresa não bastou não ter enviado a primeira, eis que escrevo uma segunda carta e com a certeza de que não a enviarei.
Quantas cartas ainda escreverei sem enviar? Sei lá,  nem sei por quanto tempo irei guardá-las, mas fiquei imaginando daqui um tempo eu relendo essas cartas, jamais enviadas, e pensando que a decisão de não postá-las foi a certa ou a errada?